sábado, 8 de agosto de 2009

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Fila de banco
Por Marinha Luiza


-212.
Este era o seu número. Pai de cinco filhos, fora ao banco tentar negociar uma dívida. Infelizmente não houve dinheiro suficiente pra pagar as prestações de sua casa de quatro comodos. Vivia de bicos. Instalava uma fiação aqui, arrumava um choveiro ali. Sua esposa esperava o sesto filho. 4º mês de gravidez. Se dentro de três meses a dívida não fosse quitada seriam despejados. Parece que o bebe vai nascer na rua.

-217.
"Mais um golpe perfeito", pensou ela. Carregando uma maleta com meio milhão. O atendente nem desconfiou que a assinatura no cheque era falsa. Com esse dinheiro ela iria fazer uma viagem a Austrália, onde aplicaria mais alguns golpes.

-278.
"Preciso dos 300 mil que estão na minha conta. Enquanto a funcionária do banco preparava os papéis para o senhor assinar, não imaginava que aquele dinheiro era pra pagar um sequestro. Aquele senhor de cabelos brancos e rosto cansado havia passado as últimas dez noites sem dormir. Seu filho mais velho fora sequestrado na saída da escola. 24 horas. Esse era o prazo pra entrega do dinheiro ou uma bala iria travessar a cabeça do menino.

-301.
A moça pegou todo o dinheiro de sua conta. Fora demitida da empresa onde trabalhava. Por sorte ainda lhe pagaram uma parte do acerto. Nenhuma empresa faz isso quando manda o funcionário embora por justa causa. Fora flagrada no arquivo transando com um colega. Precisava desesperadamente de outro emprego. Ela era quem pagava os remédios de sua mãe.

-325.
"Toma minha filha. Esse é todo o dinheiro que eu tinha."
"Mas pai, porque esse dinheiro agora?"
"Eu quero lhe dar."
"Obrigada. Agora eu preciso voltar para o trabalho."
O velho caminhou sozinho pelas ruas por um longo tempo. Tomou uma dose de uisque em um bar qualquer e se atitou do primeiro viaduto que encontrou.

-374.
Ele pegava o dinheiro que pagaria a cirurgia de coração de sua filha. Nem suspeitava que enquanto estava no banco ela morria no hospital.

412, 450, 500...
Muitas são as senhas em um banco, muitos são os donos dessas senhas. E a gente simplesmente não conhece a história de ninguém. Talvez nem a nossa...

Um comentário:

Olá caro viajante!
Não sei como chegou até aqui, mas agora que entrou, deixe suas impressões.
Ria, critique, escreva o que quiser, assim como eu!
Obrigada pela visita. :)