quinta-feira, 27 de agosto de 2009

(Não)Apague as luzes ao ir embora


Ontem, enquanto voltava pra casa, a van passou em frente à um acidente entre um carro e uma moto, esta estava caída no chão. Pude ver também o resultado mais triste de um acidente: Um corpo, acho que do motoqueiro, coberto por um saco plástico preto.
Eu não pude ver se era homem ou mulher, velho ou jovem, mas um milhão de coisas passaram pela minha cabeça. De onde estava vindo? Pra onde estava indo? Seria casado? Teria filhos? Ou havia deixado pais desesperados aguardando sua chegada ao lar? A culpa do acidente foi sua?
Nunca conseguirei responder a estas perguntas, mas é sempre muito triste ver uma vida interrompida assim, em uma estrada, à noite. Noite de quarta-feira, noite de jogo, noite de frio, noite de deitar-se na cama mais confortável e sonhar. Mas em um segundo a noite acaba e a vida vai embora.
Isso me lembrou uma tia minha, que faleceu há pouco mais de um ano: em uma tarde de sábado todos os seus sonhos foram quebrados. Ela estava voltando pra casa depois de ir à uma festa com o namorado, que dirigia o carro.Eles bateram em um poste e aí tudo se apagou. Ela foi embora bem no meio de um tratamento estético, havia acabado de comprar seu carro, seu salário melhorou... Deixou três filhos e, infelizmente, não pode ver sua neta que nasceu nove meses depois. Seu namorado eu nunca mais vi.
Era uma vida iluminada e um segundo, um carro, um deslize e as luzes se apagaram.
Talvez ela pudesse ter nos iluminado mais um tempo...
Finalizo minhas palavras com um texto de Pedro Bial, que relata o corte brusco em nosso cotidiano causado pela morte.
p.S.: Te amo tia! Saudades eternas em meu ♥...

Assisti a algumas imagens do velório do Bussunda, quando os colegas do Casseta & Planeta deram seus depoimentos,
parecia que a qualquer instante iria estourar uma piada,estava tudo sério demais, faltava a esculhambação, a zombaria, a desestruturação da cena,
mas nada acontecia ali de risível, era só dor e a perplexidade, que é mesmo o que causa em todos os que ficam.
A verdade é que não havia nada a acrescentar no roteiro:
a morte por si só, é uma piada pronta.
A morte é ridículo.
Você combinou de jantar com a namorada, está em pleno tratamento dentário.
Tem planos para semana que vem, precisa autenticar um documento em cartório...
Colocar gasolina no carro e no meio da tarde...
MORRE.
Como assim?
E os e-mails que você ainda não abriu?
O livro que ficou pela metade?
O telefonema que você prometeu dar a tardinha para um cliente?
Não sei de onde tiraram esta idéia:
MORRER...
A troco de que?
Você passou mais de 10 anos da sua vida dentro de um colégio estudando fórmulas químicas que não serviram para nada, mas se manteve lá, fez as provas, foi em frente.
Praticou muita educação física, quase perdeu o fôlego. Mas não desistiu.
Passou madrugadas sem dormir para estudar pro vestibular mesmo sem ter certeza do que gostaria de fazer da vida, cheio de duvidas quanto à profissão escolhida...
Mas era hora de decidir, então decidiu, e mais uma vez foi em frente...
De uma hora pra outro, tudo isso termina...
Numa colisão na freeway...
Numa artéria entupida...
Num disparo feito por um delinqüente que gostou do seu tênis...
Qual é?
Morrer é um chiste.
Obriga você a sair no melhor da festa sem se despedir de ninguém, sem ter dançado com a garota mais linda, sem ter tido tempo de ouvir outra vez sua música preferida.
Você deixou em casa suas camisas penduradas nos cabides, sua toalha úmida no varal, e penduradas também algumas contas...
Os outros vão ser obrigados a arrumar suas tralhas, a mexer nas suas gavetas...
A apagar as pistas que você deixou durante uma vida inteira.
Logo você que dizia: das minhas coisas cuido eu.
Que pegadinha macabra: você sai sem tomar café e talvez não almoce, caminha por uma rua e talvez não chegue na próxima esquina, começa a falar e talvez não conclua o que pretende dizer.
Não faz exames médicos, fuma dois maços por dia, bebe de tudo, curte costelas gordas e mulheres magras e morre num sábado de manha.
Se faz check-up regulares e não tem vícios, morre do mesmo jeito...
Isso é para ser levado a sério?
Tendo mais de cem anos de idade, vá lá, o sono eterno pode ser bem vindo...
Já não há muito mesmo a fazer, o corpo não acompanha a mente, e a mente também já rateia, sem falar que há quase nada guardado nas gavetas.
ok, hora de descansar em paz.
Mas antes de viver tudo?
Morrer cedo é uma transgressão, desfaz a ordem natural das coisas.
Morrer é um exagero.
E, como se sabe, o exagero é a matéria-prima das piadas.
Só que esta não tem graça.
Por isso viva tudo que há para viver.
Não se apegue as coisas pequenas e inúteis da vida...
Perdoe...
Sempre!!

Um comentário:

  1. Engraçado...No dia que vi o corpo do motoqueiro na br me fiz quase que as mesmas perguntas que você... Passou um flash em minha mente sobre quem seria aquela pessoa, dentre outros indagamentos. Isso me entristeceu um pouco, eeu nem conhecia a tal pessoa. No dia seguinte, um conhecido de Betim apareceu no msn com o luto estampado no apelido. (Me)perguntei se teria a ver...Mas perguntei apenas a mim mesma.
    Lendo seu post lembrei também do professor Jorge do Afonso pena, que era amigo do meu tio, também professor, porém de outra escola. Apesar de a morte, no caso dele, ter sido por escolha própria, não deixa de ser uma fatalidade. E as pessoas que ficaram? E os filhos, a esposa, os amigos, os parentes? Se os alunos sentiram sua morte, imagina esses então. Passamos nossos dias atarefados, pensando nos trabalhos de faculdade e nas noites em claro para fazê-los, no que vou comer no dia seguinte, na festinha do fim de semana. E vivemos assim. E furtivamente a morte nos espreita. Mas nada podemos fazer. Se for pensar demais nisso, é angustiante. Mas, no fim, a morte é somente a única certeza que temos nessa vida. Piegas, mas fato.

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